Como mencionado nos episódios anteriores de Projeto Casas, estávamos morando na casa da Vó Elza, minha avó paterna, enquanto
esperávamos minha tia liberar espaço pra gente na casa da minha vó materna, a
vó Inês. Minha tia estava grávida da Lays e esperando a casa dela no Jaraguá
ficar pronta, da mesma forma que esperávamos no casarão.
A Casa da Infância
Essa casa foi a melhor casa em que já morei. Não
gosto muito de comentar dela porque me lembra da minha cachorra Shena. Quando
nos mudamos dessa casa para um apartamento, a Shena ficou com os meus avós. Eu
fiquei com muita mágoa e tristeza porque a Shena era minha e fui obrigada a me
separar dela. E não dei a atenção devida até ser muito tarde. É a coisa
que eu mais me arrependo na minha vida, mas foi uma lição. Fiz uma tatuagem
dela no meu corpo para gravar o compromisso e meu dever que tinha com ela e fico
feliz de ter podido providenciar algo bom para ela no fim.
Bom, já queria me livrar de falar dessa parte
chata, então vamos prosseguir.
Eu na fachada da casa |
No colo da Vó Inês |
Como meus pais trabalhavam o dia todo, eu fui meio
que uma criação de vó. Minha avó Inês cuidava muito bem de mim. Eu lembro que
eu acordava sempre ao som do pigarro dela (que diminuiu bastante em comparação
com hoje em dia) ou da máquina de costura. Nessa foto à direita, vocês podem
ver que tínhamos também uma espécie de bar de madeira, mas atrás só tinha
livros, CDs e discos de vinil. Eu era muito sabida, tocava os vinis da Xuxa
todos os dias. E assistia também o VHS da Lua de Cristal. Pedi tantas vezes
para minha mãe alugar essa fita, que teria sido muito mais econômico se ela
tivesse simplesmente comprado. Achava muito legal essa parede de vidro. E a
parede de tinta branca depois foi pintada de amarelo, que deu uma vida maior para essa
sala de visitas.
Celebrando meu aniversário de 4 anos com Fanta Uva e guaraná Taí |
As brincadeiras eram muito boas naquela época. Era
incrível como tínhamos criatividade para tanta brincadeira. Hoje em dia fico
mordida quando vou a um restaurante e vejo as crianças assistindo coisas no
tablet ou no celular apoiado no copo de suco de laranja. Sei que falo isso
agora e provavelmente, quando/se eu tiver filho, no primeiro berro que ele der,
vou enfiar um celular na cara dele só para não me encher mais o saco, mas meu
objetivo é que meu filho não tenha celular e não saiba o que é isso até ficar
mais velho. Porque eu e a Lays brincávamos de voar, que consistia em amarrar
uma toalha em volta do pescoço fazendo ela de capa e saltar repetidamente do
sofá. E sempre que eu sentia que tinha ficado mais uns milésimos de segundo no
ar do que o normal, falava: “Lays, acho que eu voei um pouquinho”. E se
tínhamos a possibilidade de nos divertir com isso, nada vai fazer com que meus
filhos necessitem usar um aparelho eletrônico. Brincávamos também de
Ponte-do-Rio-Que-Cai, baseado no programa de mesmo nome do Faustão, que era só
atravessar o sofá sem cair nas almofadas (lava). Brincávamos de clubinho
secreto, espionagem, esconde-esconde, video-game e, a brincadeira principal, de
Barbie.
Brincar de Barbie era muito incrível, nós tínhamos
nossas Barbies e, diferente de como a maioria das pessoas brincam, em que cada
dia a Barbie era uma pessoa diferente, as nossas tinham nomes e personagens
definidos e nunca mudava. Havia espécies de repúblicas. As minhas Barbies vivam
na Céu Aberto e a da Lays, que sempre foi mais chique, na Casa Branca. E tinha
um romance muito difícil entre o meu Ken e a Barbie ruiva da Lays, a Flory.
Demorou muito, mas muito tempo para o meu Ken conquistá-la, mas um dia eles se
beijaram. Nós tínhamos, as duas, os Kens do Zezé di Camargo e Luciano. Nós
adorávamos, mas não sei porque gastaram dinheiro com esses Kens, já que Kens
avulsos, diferentes e mais bonitos sairiam muito mais em conta.
Preparada para a festa |
Eu e meu pai no quintal |
Uma vez, ganhei a cabaninha da Turma Mônica, mas
por falta de peças ou interesse/sabedoria para montar a cabana do jeito certo,
colocava o pano por cima de duas cadeiras no quintal e pronto: cabana montada.
Eu entrava dentro dela para ficar escrevendo.
Foi ainda nessa casa que comecei a ler Harry
Potter. Eu gostava muito de livros, fazia coleção da Revista WITCH e pegava
vários livros da biblioteca da escola. Minha mãe também lia Harry Potter
comigo, e ficávamos o dia inteiro lendo até minha vó brigar com a gente que não
conversávamos com ela. E era muito bom quando eu estudava à tarde, chegava da
escola e minha avó me dava arroz, feijão com carne cozida e eu jantava
assistindo Dragon Ball Z, na espera de assistir As Meninas Super Poderosas.
Eu e a Shena na garagem |
A gente brincava muito de bolinha. Eu colocava meu
pé na parede de tijolos do quintal e ela ficava correndo em círculos em volta
de mim, pulando o obstáculo (que era minha perna). Amava muito essa cachorra.
Antes dela, nós tivemos galinhas também. Meu avô chegou
com dois pintinhos que eu nomeei de Pitchula e Asa Branca - nomes péssimos! - e
quando elas ficaram muito grande, nós as deixamos numa área do asilo que minha
bisavó já ficava na época. E antes das galinhas, tínhamos a cachorra Kelly, uma
mistura de vira-lata e pastor alemão que só ficava na garagem praticamente,
assim como a Shena. E antes de tudo, tínhamos um gato siamês chamado Jean
Pierre. Mas eu não me lembro dele, só sei porque tem fotos e fitas minhas com
ele, agarrando as orelhinhas e dando beijinho.
Hoje, essa casa está dividida estranhamente em duas
e alugada. Por dentro deve estar irreconhecível com essa divisão. Uma pena que
tivemos que deixar algo tão simbólico para trás. Mas realmente, estava ficando
difícil de viver ali, até porque era numa ladeira, então era horrível de sair a
pé, sem falar no perigo.
Apesar de ter sido uma época boa, é terrível escrever agora e lembrar-me de certas coisas do passado. Dá um
nó gigante pensar nas coisas que me arrependo, mesmo sendo criança. Fico
feliz de poder fechar logo esse capítulo e partir para a parte boa das
memórias.
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