sábado, 23 de março de 2019

Projeto Casas: Casa 3 (A Casa da Infância)


Como mencionado nos episódios anteriores de Projeto Casas, estávamos morando na casa da Vó Elza, minha avó paterna, enquanto esperávamos minha tia liberar espaço pra gente na casa da minha vó materna, a vó Inês. Minha tia estava grávida da Lays e esperando a casa dela no Jaraguá ficar pronta, da mesma forma que esperávamos no casarão.

A Casa da Infância


Essa casa foi a melhor casa em que já morei. Não gosto muito de comentar dela porque me lembra da minha cachorra Shena. Quando nos mudamos dessa casa para um apartamento, a Shena ficou com os meus avós. Eu fiquei com muita mágoa e tristeza porque a Shena era minha e fui obrigada a me separar dela. E não dei a atenção devida até ser muito tarde. É a coisa que eu mais me arrependo na minha vida, mas foi uma lição. Fiz uma tatuagem dela no meu corpo para gravar o compromisso e meu dever que tinha com ela e fico feliz de ter podido providenciar algo bom para ela no fim.
Bom, já queria me livrar de falar dessa parte chata, então vamos prosseguir.
Eu na fachada da casa
Digo que essa casa foi a melhor em que morei, porque a infância é um momento maravilhoso, pelo menos pra mim foi, muito. Hoje em dia, imagino que iria detestar morar ali, pois é um bairro perigoso da Freguesia do Ó. Morávamos na Rua Francisco de Paula Moura Neto, número 100, a famosa "Rua da TELESP". Era essa casa de tijolinhos construída pelos meus avós quando migraram do interior de Santa Albertina para São Paulo. Dois caipiras com as filhas Ivanilde e Ivanete que começaram a vida aqui. Passaram por vários negócios (lojas, encadernação, costura, rotisserias) até se fixarem com a lotação. Começaram com uma perua e foram progredindo. Hoje em dia eles têm duas linhas de micro-ônibus. Nessa foto, estou eu posando na perua nova com o meu uniforme do Colégio Santo Ivo que, na época, se chamava ainda Instituto de Ensino Santo Ivo.
No colo da Vó Inês
A casa tinha duas garagens, um salão, quintal, vários quartos, dois andares e morávamos eu, meus pais, meus avós maternos e minha bisavó, mãe do meu avô.
Como meus pais trabalhavam o dia todo, eu fui meio que uma criação de vó. Minha avó Inês cuidava muito bem de mim. Eu lembro que eu acordava sempre ao som do pigarro dela (que diminuiu bastante em comparação com hoje em dia) ou da máquina de costura. Nessa foto à direita, vocês podem ver que tínhamos também uma espécie de bar de madeira, mas atrás só tinha livros, CDs e discos de vinil. Eu era muito sabida, tocava os vinis da Xuxa todos os dias. E assistia também o VHS da Lua de Cristal. Pedi tantas vezes para minha mãe alugar essa fita, que teria sido muito mais econômico se ela tivesse simplesmente comprado. Achava muito legal essa parede de vidro. E a parede de tinta branca depois foi pintada de amarelo, que deu uma vida maior para essa sala de visitas. 
Celebrando meu aniversário de 4 anos com Fanta Uva e guaraná Taí
Eu passei acho que todos os meus aniversários nessa casa, enquanto morei lá. Estou até pensando em fazer um Projeto Aniversários, com as descrições e fotos de cada um deles. Mas era praticamente tudo como nessa foto. Era uma decoração que minha mãe comprava, quando não era feita por nós. De manhã, era a preparação do aniversário. Os brigadeiros a gente sempre fazia. Minha vó comprava as latas de chocolate mole e granulado e ensinava a gente a fazer. Era muito difícil resistir à tentação de comer as bolinhas de chocolate e complicado não lamber a mão cheia de manteiga. E ficávamos muito ansiosas para chegar a noite e receber os convidados. Como a gente era muito pequena, nossa vó tentava criar a gente em um pé de igualdade e, sempre que era meu aniversário, a Lays soprava vela junto e ganhava presente. E vice-versa.
As brincadeiras eram muito boas naquela época. Era incrível como tínhamos criatividade para tanta brincadeira. Hoje em dia fico mordida quando vou a um restaurante e vejo as crianças assistindo coisas no tablet ou no celular apoiado no copo de suco de laranja. Sei que falo isso agora e provavelmente, quando/se eu tiver filho, no primeiro berro que ele der, vou enfiar um celular na cara dele só para não me encher mais o saco, mas meu objetivo é que meu filho não tenha celular e não saiba o que é isso até ficar mais velho. Porque eu e a Lays brincávamos de voar, que consistia em amarrar uma toalha em volta do pescoço fazendo ela de capa e saltar repetidamente do sofá. E sempre que eu sentia que tinha ficado mais uns milésimos de segundo no ar do que o normal, falava: “Lays, acho que eu voei um pouquinho”. E se tínhamos a possibilidade de nos divertir com isso, nada vai fazer com que meus filhos necessitem usar um aparelho eletrônico. Brincávamos também de Ponte-do-Rio-Que-Cai, baseado no programa de mesmo nome do Faustão, que era só atravessar o sofá sem cair nas almofadas (lava). Brincávamos de clubinho secreto, espionagem, esconde-esconde, video-game e, a brincadeira principal, de Barbie.
Brincar de Barbie era muito incrível, nós tínhamos nossas Barbies e, diferente de como a maioria das pessoas brincam, em que cada dia a Barbie era uma pessoa diferente, as nossas tinham nomes e personagens definidos e nunca mudava. Havia espécies de repúblicas. As minhas Barbies vivam na Céu Aberto e a da Lays, que sempre foi mais chique, na Casa Branca. E tinha um romance muito difícil entre o meu Ken e a Barbie ruiva da Lays, a Flory. Demorou muito, mas muito tempo para o meu Ken conquistá-la, mas um dia eles se beijaram. Nós tínhamos, as duas, os Kens do Zezé di Camargo e Luciano. Nós adorávamos, mas não sei porque gastaram dinheiro com esses Kens, já que Kens avulsos, diferentes e mais bonitos sairiam muito mais em conta.
Preparada para a festa
Nessa foto à esquerda, em que estava preparada para celebrar um dos famosos Halloweens na casa do Rafael Selvi, vocês podem notar a escultura do Dom Quixote (sempre nos acompanhando) e ver bem a escada, que servia de edifício das Barbies. Cada degrau era um andar. Imagina quando um adulto queria subir a escada, que atrapalhação. De noite, era horrível quando tinha que descer ou subir o andar sozinha. Eu tinha muito medo do Diabo e descia a milhão para não ficar sozinha no escuro com ele. Tinha medo do boneco Chucky também. Apesar de não ter um boneco dele, imaginava qualquer boneco me perseguindo pelas escadas.
Eu e meu pai no quintal
Uma vez, ganhei a cabaninha da Turma Mônica, mas por falta de peças ou interesse/sabedoria para montar a cabana do jeito certo, colocava o pano por cima de duas cadeiras no quintal e pronto: cabana montada. Eu entrava dentro dela para ficar escrevendo.
Foi ainda nessa casa que comecei a ler Harry Potter. Eu gostava muito de livros, fazia coleção da Revista WITCH e pegava vários livros da biblioteca da escola. Minha mãe também lia Harry Potter comigo, e ficávamos o dia inteiro lendo até minha vó brigar com a gente que não conversávamos com ela. E era muito bom quando eu estudava à tarde, chegava da escola e minha avó me dava arroz, feijão com carne cozida e eu jantava assistindo Dragon Ball Z, na espera de assistir As Meninas Super Poderosas.
Eu e a Shena na garagem
Ganhei a Shena no Natal de 2001, quando tinha 10 anos. Eu fui buscá-la na casa do Tio Valdomiro (tio do meu avô, que morava na mesma rua) e a escolhi dentre vários outros filhotes. Ficamos passando os canais na TV tentando pensar num nome bem legal para dar para ela. Era época da novela O Clone e quase foi Jade. Ainda bem que não foi, acho um nome muito feio. Mas como a série que mais aparecia na TV era Xena, a Princesa Guerreira, eu e meu pai concordamos em deixá-la como Shena, uma pequena liberdade ortográfica na criação do nome. Ela era muito arteira quando pequena. Ela comeu os fios do carro e uma vez, quando chegamos do shopping, a encontramos dentro do carro, com as patas no volante. Dessa vez, a parte mais crítica da destruição foi apenas um guia de ruas.
A gente brincava muito de bolinha. Eu colocava meu pé na parede de tijolos do quintal e ela ficava correndo em círculos em volta de mim, pulando o obstáculo (que era minha perna). Amava muito essa cachorra.
Antes dela, nós tivemos galinhas também. Meu avô chegou com dois pintinhos que eu nomeei de Pitchula e Asa Branca - nomes péssimos! - e quando elas ficaram muito grande, nós as deixamos numa área do asilo que minha bisavó já ficava na época. E antes das galinhas, tínhamos a cachorra Kelly, uma mistura de vira-lata e pastor alemão que só ficava na garagem praticamente, assim como a Shena. E antes de tudo, tínhamos um gato siamês chamado Jean Pierre. Mas eu não me lembro dele, só sei porque tem fotos e fitas minhas com ele, agarrando as orelhinhas e dando beijinho.
Hoje, essa casa está dividida estranhamente em duas e alugada. Por dentro deve estar irreconhecível com essa divisão. Uma pena que tivemos que deixar algo tão simbólico para trás. Mas realmente, estava ficando difícil de viver ali, até porque era numa ladeira, então era horrível de sair a pé, sem falar no perigo.
Apesar de ter sido uma época boa, é terrível escrever agora e lembrar-me de certas coisas do passado. Dá um nó gigante pensar nas coisas que me arrependo, mesmo sendo criança. Fico feliz de poder fechar logo esse capítulo e partir para a parte boa das memórias.


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