sábado, 2 de março de 2019

Translação e Inconsistências

Desde que eu assisti Bater ou Correr em Londres e vi o Roy O'Bannon [Owen Wilson] disfarçado e inspirando o Sir Arthur Conan Doyle [Tom Fisher] a criar a história do detetive Sherlock Holmes, virei fã e fiquei obcecada pelas histórias. (Por muito tempo Bater ou Correr foi meu filme favorito e o Owen, até hoje, está no meu top 10 de celebridades com quem eu me casaria). Na época, eu ia para a ACM fazer atividades físicas e ficava lendo os livros e contos enquanto esperava minha mãe vir me buscar. E ela que alugava os livros na biblioteca para mim. Às vezes, comprava alguns.

Uma coisa que sempre me intrigou na história do Holmes, e que até então achava que eu tinha lido errado e criado uma falsa lembrança na minha mente, era sobre ele não saber que a Terra gira ao redor do sol e que, além disso, essa era uma informação irrelevante, pois não tinha nenhuma aplicação prática na vida dele e faria questão de esquecer o mais rápido possívelApesar de concordar com ele... - eu sou CONTRA A INFORMAÇÃO! - eu pensava: será mesmo que não vai calhar saber disso alguma hora? 

Agora estou relendo os livros. Comprei uma versão que é a compilação de quase todas as histórias. Esse da figura aqui, mas sem o café e o floral conceitual. É um livro de 1032 páginas com as bordas folhadas a ouro. Super difícil, muito vocabulário novo de inglês britânico que estou tendo que sublinhar e buscar na internet. Mas enfim, isso para descobrir que SIM! Era verdade, não era coisa da minha imaginação. O Sherlock realmente desconhecia a translação da Terra. E além disso ele não precisou saber desse movimento para ser bom no trabalho dele. Pelo menos em sua vida fictícia, esse fato foi tão útil quanto Báskara nas nossas.

Mas aí fizeram a série SHERLOCK. Uma versão moderna da história de Sherlock Holmes e do dr. Watson. Já começa o erro aí, porque hoje em dia todo mundo na Europa sabe que a Terra que gira em torno do Sol. Não é Brasil, onde tem gente que tem a mesma certeza que se você seguir reto ali da Praia Grande, você cai no fim do mundo. Porque a Terra é plana. Mas até aí tudo bem. O problema é quando, em um dos episódio, o Sherlock (que é o gatinho do Benedict Cumberbatch) desvenda um grande mistério identificando que uma obra de arte era falsa porque tinha uma estrela a mais pintada no céu. 
Porra, mas um episódio atrás você nem sabia que a Terra que fazia o movimento, agora já sabe tudo sobre astronomia? Eu só sei identificar as Três Marias e olhe lá! Isso porque nos levaram para o planetário uma vez na escola e foi muito divertido, daí comprei um adesivo que brilhava no escuro e colei na TV. Está lá até hoje. É por isso que eu sei! Era uma aula disfarçada de passeio, e a gente não percebeu que estava aprendendo. É aí que mora o perigo. Enfim... fiquei revoltada com essa inconsistência clara na série! Fora os enredos, umas coisas forçadas, que são intragáveis, que me fez considerar um insulto à história.

Tenho isso com muitas coisas. Por exemplo, quando surgiu o funk do Avada KiRaba, fiquei muito chateada... Não mexe nas coisas que eu gosto, sabe? Tem o Xangô de Baker Street, uma heresia. E nem quero saber dessa SÉRIE que vai sair de Senhor dos Anéis. Que corolhos! Já tem filme bom pra isso, pra que mexer mais e estragar?

Mas aí voltando ao livro, descobri uma inconsistência fortíssima: o Watson leva um tiro no ombro em Um Estudo em Vermelho e depois esse tiro vira magicamente da perna em O Signo dos Quatros. Então a série Sherlock está certíssima em criar uma inconsistência ali. Isso é ser fiel ao livro!

O meu namorado desistiu de assistir. Mas também ele parou de ver quando chegou o Moriarty, que é a maior forçação de barra e clichê que tem em um vilão. Aí não tem condições mesmo, dá vontade de desligar a TV quando ele aparece falando com aquela boca mole, aquele olhar de tonto e a voz de otário. "Ah, mas Anna, é isso que eles queriam fazer você sentir do vilão. A proposta deu certo". NÃO! E cala a boca você também. Ele é só zuado mesmo e é isso que é. Prefiro o Komodo.

No fim, a maior inconsistência de todas é que eu estou adorando a série! Não consigo parar de assistir. Tem muito fan service e o fato de ser uma adaptação aos dias modernos faz você se desapegar de exigir uma fidelidade ao enredo do livro. Tem muito ship dando certo com muitas piadinhas e indiretas legais! Dá gosto de assistir, apesar de tudo. Diferente do filme com o outro lá... ai, nem me fale. 

É isso por hoje. Fiz uma pechincha na Teodoro Sampaio e comprei um baixo Washburn por um preço bem menor do que ia pagar por um SX novo barato. Estou bem contente e agora não vou ter desculpa para não estudar. Porque para dar certo, eu tenho que fazer assim: gastar primeiro e depois cumprir. Só não funciona com a academia.  




4 comentários:

  1. Hahahaha
    Quanta coisa inteligente! Nem consigo acompanhar!

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  2. TAH ERRADO. Toda adaptação eh uma nova forma de arte, uma nova forma de interpretar e principalmente uma nova chance de dizer coisas. Adaptar de forma fiel qlquer coisa é só um jeito de fazer a coisa, talvez o mais covarde, pq vc sabe q vai agradar todos os que gostaram de ler. Gosta do livro, leia o livro, mas assistir algo novo tem que avaliar como uma obra única e não com o q vc queria que fosse.

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